Monday, April 30, 2007

segredo

Chego a casa ao domingo
está quase tudo desarrumado
Vegeto em dois compartimentos
Onde como e onde durmo
Cama por fazer, pratos de comida e sem comida
O que vale é a mesa ser grande
E nela cabem ainda carteiras, chaves, livros, canetas, moedas e comprimidos
Está visto que não sei cozinhar e prefiro parti-la do que a lavar, à dita louça
Não saber é uma desculpa elitista para nunca aprender o que dá trabalho
E não ter jeito é um adorável defeito
Eu sei queridas mulheres, mas eu não sou perfeito e não me esqueço
Todos os dias me penitencio
E vou contar-vos um segredo
Quando me sinto mais perto de alguém que me entenda
Pergunto-lhe sempre se gosta de lavar e cozinhar
E se ela me fala da empregada
Até depois muito obrigada

Friday, April 27, 2007

árvores

Não
te
encostes
se
podes andar
Vai
Pelos teus pés
De encontro às árvores
Elas acordarão as raízes
Abrirão as folhas

Para te escutar

Thursday, April 26, 2007

O dia

Para além do sonho cativei o dia
Esse que nos cria e
Hoje já não sei quem sou

Todas as manhãs
Debaixo do chuveiro, ai vida
É o meu bom-dia

À tarde de pés virados
Ando às voltas
A sombra vazia

À noite repito os passos
E acordo
Em cama vazia

Para além do sonho cativo do dia
Esse que me cria
Esse que nos roubou e
Hoje já não sei quem sou

Wednesday, April 25, 2007

como serias Maria?

Nos instantes ao abrir a terra
Lembrei-me da tua voz, como serias
Voavam os grãos para além do chão
Iam todos para ti
Semear é viver e eu só adivinhava
No meu peito a crescer
Seara quente, seara gente
Numa espiga pequenina eu vi o teu nome Maria
Dos meus olhos fiz um sol, da minha sede caudal
Como crescias Maria
E eu contigo fiz-me de ouro
Milho pão milho povo
Das nossas vidas, das nossas bocas
Colhemos frutos,éramos videiras de um vinho novo
Verdes folhas em verde céu
Entrelaçamos os dedos, sem espaço nem tempo
Apenas chão, como serias Maria?

Tuesday, April 24, 2007

pouco

Quero só um pouco de amor
De uma mulher que não me peça paz
Um pouco de amor, nada mais
Quero morrrer com uma mulher
Que me ame um pouco
Basta um pouco, nada mais
Viver já não quero, basta-me o amor
Pouco de uma mulher que não me peça a paz
Quero só um pouco de amor
Nada mais
E se tiver alguma paz e a queiras
Dou-ta por esse pouco amor que me dás

Monday, April 23, 2007

La mujer para días

La mujer para días
Vende horas para sobras
Y todos los días
La cambian por el trabajo
Tan pocos días
Que ya ni lo saben
Esta mujer sin días
Esta mujer de sobras
Si es mujer para días
Si es el proprio trabajo

Mendigo

Não ensines o que não sabes
Porque eu posso aprender
Tudo aquilo que já sabes
E que não me queres dizer

Quando coração se corta
Não há mal que tando dure
Não deves deixar à porta
Um mendigo que te procure

Deixa o mendigo seguir
Dobrar o teu pão em mil pães
Se ficar pode-te pedir
O amor que não lhe tens

Friday, April 20, 2007

a ti

alguns versos,não, alguns versos não
grãos de poesia
Não, também não
A poesia não tem medida
Vida, laços de vida que me prendem
A um ser que apenas nunca vi com os olhos da cara
Se calhar não existe mas seu sei que vive
Mas a vida não tem prisões, laços e enfeites
Vida, vida, vida
Tudo e nada, opositor sinónimo, unidade dual, boca pulmões, palavra alma
Respirar a frase nunca dita, saborear o poema nunca escrito
Plenamente contigo me encontrar em ti
E ficar e ser contigo todo o meu ser que é teu
Será amor?O amor é um dinâmico sedentário, a sofreguidãao em repouso, um corredor sem meta, uma ponte sem rio, uma constante provocação
Talvez seja paixão, este descontrolo de águas revoltas que se abraçam a leves gaivotas
Esta dor alegria de te sentir e que por tanto te querer te perdia

Fiquei

Tudo foi adeus
Até o agora não vivido
Me deixou
E fico a olhar
Sem direcção

Nada foi
Até o adeus olhou
A viver o agora
Sem direcção

Até a direcção
Nada foi
Fiquei sem viver
Sem olhar
E sem agora

Tuesday, April 17, 2007

O corpo

Passou o carro, chovia no teu sorriso
Os olhos em novas formas sustinham alguma sede
Enquanto andava na tua sombra
Largavas o braço a ombro distante
Aonde afogavas alguma paz
Levaram-ne antes de escolher o tempo
O corpo era um destino talvz uma partida

Thursday, April 12, 2007

Esta viagem

Tirar o baraço
O cordame desfeito
Engolidas as âncoras
Ser tempestade
Partir
Berços, religiões e defuntos
Incensos dogmas
Títulos e mordomias
Cavalgar a liberdade
Despir preconceitos
Seguir
Como se a morte fosse descanso
E a vida esta viagem

outra viagem

Está na hora
De sair
Fazer outros carris
Não! Quero outra viagem
Onde o sol se entrelace
Em terra húmida
Sejam tranças os raios
E as mãos não sejam aves
Mãos, apenas mãos
Quero sair contigo
Mas primeiro tenho de te encontrar
E se tu fores o destino
E eu nem sequer for a viagem
Em cada pôr do sol dormirei
O teu acordar

Wednesday, April 11, 2007

Bocaditos

As vogais saem
A simpatia ressentida
Da mulher território
No ar
Também os assentos têm número
Vamos conter os que nos mantém
Repartir sem partilhar, dar por inteiro
Nao é fácil, queremos sempre receber
Aliados guerreamos a paz
Tabuleiros vazios que recolhemos de barriga cheia
Eternas vírgulas, cinzenta espuma, bocaditos encadeados que tudo nos dão

Tuesday, April 10, 2007

surdas notas

Naquelas notas
Adivinhava Chopin
O concerto nº 1 para piano
Profundo o mar
O silêncio, o som
Corria em ondas
Para te encontrar
As pedras ouviam
O céu ouvia
Dos olhos escorria uma velha saudade
E ninguém ouvia

Friday, April 06, 2007

o meu mar

Junto ao barco aceito a minha chegada definitiva ao porto do tempo
Ancorei antes dele chegar para não sair
O temporal era do chão agreste onde o mar secou
Em Marticinica desaguei , não era este o meu barco
Viajo com os bolsos cheios de terra e não saio da praia
Enquanto espero que outros me guiem
Trouxe empertigamento pelas viagens que nunca soube fazer
E esta estúpida mania de conquista feita de isolamento
Cada vez mais acredito que é sempre o mesmo o poema escrito
O resto cai em lágrimas, sopa fria para pequenos tanques a que chamam piscinas
Pintadas como lábios, cabelos e alma de quem nelas mnergulha
Duas velhotas espanholas falam no paraíso e comem como se estivessem no inferno
Prefiro o seu olhar ao do mar quieto e neste barco só me paetece vomitar
Afunda-lo sem matar vidas, talvez lavá-las com o meu aguado sangue
E vou escrevendoo cada palavra como um medalha cravada na carne de um peito sem mérito
Não se preocupem, a contingência veste-se de gravata e umbigo
Em frente se queda e no meio se despe, olho o mar que nunca parou, ele nos leva
Estranha é a faca qie corta carne feita de alma
Ela nos ensina que o infinito mao deve ser conquistado
Nunca sei para onde me atirar de cabeça apenas que todo o vencido é um vencedor
E que o mar é imenso e que nunca pára

Monday, April 02, 2007

A mulher a dias

A mulher a dias
Vende horas a retalho
E todos os dias
A trocam por trabalho
Tão poucos os dias
Para tanto trabalho
Que já nem sabe
Esta mulher sem dias
Esta mulher de retalho
Se é mulher a dias
Se é o próprio trabalho