Friday, November 21, 2008

As mulheres da minha aldeia

As mulheres da minha aldeia
Vivem junto ao rio e à serra
Acordam em lua cheia
E pintam as unhas com terra

As mulheres da minha aldeia
Vestem capucha, calçam socas
Cansadas depois da ceia
Fiam cuidados nas rocas

Têm os filhos que Deus quiser
E só a natura as enleia
E o pão é o que vier

E a alma é o que se quer

O trabalho é a sua teia
E a família a sua ideia
Valem mais que qualquer mulher

As mulheres da minha aldeia

Tuesday, November 18, 2008

arranha-céus

No distúrbio do platinado
Aonde das minas o sangue encontra
Cestos informes carregam as costas
De encontro às casas sem paredes
Nas galeras entupidas em suor
Em remos de costelas partidas enxerga
Não dos olhos inquietos o descanso
No químico hospício os arbustos de argamassa
Tapam o verde dos olhos
Aonde os cavalos se ferram
O sismo fecha ao fogo as portas que abrem
Guaritas de calcinadas sentinelas
O lume só queima quem amordaça o pó
Fermento de arranha-céus
Sobreposatos cativeiros de peixes sem barbatanas
Os bocados perdem a boca
Andantes penas nas garras dos engabnados
Fantasmas que aguardam o silêncio das suas tumbas