Monday, June 25, 2007

a gente

Talvez a confusão nos oriente
O caos seja a ordem
Talvez o coração seja a mente
E só as pessoas nos acordem
Talvez o destino da gente
Seja mais igual do que diferente
E só amando a gente se sente

Saturday, June 23, 2007

o teu corpo

Consigo escrever
Várias cartas
Sem destinatario
Ou com saída
E entrada
Sem escrever, sem dizer
Consigo cartas
Vários portos
Sem saída
O que falta
Que seja apenas
O teu corpo
Que sempre
Beijo
E nunca conheci

Tuesday, June 19, 2007

O andróidezinho

Regulou a temperatura do fato térmico
Não sabia se era do corpo aquele calor
Descontraía enquanto descia no propulsor imaginando
Como ali em baixo haviam vivido milhões de seres
Sem protectores de vidro, ao relento, mergulhos em rio e mares
Primitivos, felizes, descuidados
Hoje só as máquinas vivem a céu aberto
Agitou os cabelos e de novo espreitou o sensor térmico, estava grávida
Desde que saíra do banho matinal sabia o resultado
Tinha entrado duas vezes na sala de saúde e duas vezes olhou o resultado positivo
Seria mãe pela primeira vez, cinquenta e dois anos, quase uma adolescente
Baixou a temperatura enquanto entrava na camada superior da Terra
Uma faixa de luz identificava-a
Em segundos era direccionada ao seu habitat
Vivia com andríde criado para a ajudar
Era uma máquina quase perfeita da última geração K25
Cozinhava, lia, programava o dia o mais perfeito possível
E sabia tudo a seu respeito, era isso que a incomodava
Naqueles tempos a mulher podia decidir de outras vidas
Antes de chegar ao pátio virou à esquerda aonde um velhote clonado de 340 anos decorava democracia, última cadeira da sua tardia e má formação
Retórica do somar e subtrair
-Ei Bush! sabes estou grávida De mim não é Claro meu cretino tu só gostas de levar por onde te vai saindo o que vales Só queria que me dissesses como posso resolver o problema Mete este supositório de plutónio
Os filhos da puta hão-de continuar enquanto o mundo for mundo-
Com este pensamento chegou ao pátio aonde o andróide a esperava com uma cápsula refrescante
Despida programou-o para excitação intensa
Adivinhando para si nova geração em breve futuro
Mas esqueceu um pormenor vital, dentro de si
Vivia um andróidezinho muitíssimo evoluído
Que sentiu o perigo e masceu antes de tempo
Cheio de força e de vida

Thursday, June 14, 2007

o instinto

Espero
Cansado dos passos
A voar
Sair
Do corpo para o encontrar
A gente
Ouvir a alma
O coração
A mente
Que sente
Labirinto
Do que sinto
Feito e desfeito
No pão
Na palavra
O crescer
Na razão o instinto
De querer ser

fugitivas

Quem me dera poder se as tuas sombras
Para as fechar no meu peito
E abrir os passos
No silêncio íntimo da tua beleza
Adormecer o medo
Na ternura dos teus versos
E contigo poder encontrar
As fugitivas estrelas

Tuesday, June 12, 2007

Tenho tantas saudades de ti e só te encontro às vezes
Nalgumas partes, sempre mais inteira do que eu
E reparto-me ainda mais para te respirar
Dói-me o peito nesta aridez igual
Não me perguntes como és, não sei
Todos os desenhos são riscos, veios de calada água
Os meus olhos secaram de esperança e nada me ficou além
De te sentir a toda a hora
E por isso me abençoo neste pesado vale aonde caio e me ergo
Vou agradecendo ao chão o mesmo ar que nos tem e ao tempo o que me der
Para te encontrar
Amo uma mulher sei que é mais linda que todas as manhãs e vou-me entregando à noite
Amo-a porque a minha vida não o foi, não o é nem nunca será sem ela, escuto-lhe os passos, saboreio o cheiro do seu corpo a ternura da sua almaa e tudo é sempre muito mais com ela
Por isso ela é o meu ar, a minha boca e o meu sangue
Por isso ela vive longe, longe deste chão estragado, deste céu de enfeites, ela é
o amor, o meu amor por isso lhe perdoo que não me leve consigo

Monday, June 04, 2007

o que não tenho

Desta água saí
Em forma de terra bem magra, estrumada
Com fome de sol sem queimar a pele
Sobrevivi entre as letras
Sem preço
E os sorrisos comprados
Um dicionário de idiomas
Todos os dias a falar igual
Quero ir para casa
Onde possa ouvir os meus silêncios
Sem gastar os vossos
Falo demais
Estrago talvez o que só queria dar
Temo como possa responder ao que destruímos
Só vos quero dar o que não tenho
Oferecer-vos o corpo quando vos queria dar a alma