Wednesday, May 30, 2007

vinha

Vinha coberto
De ar
Meio vazio
Frio, cheio de nada
Apenas os ouvidos
Acreditavam
Eram semente de desjo
Tazia gente
Muita gente
E a fome de um beijo

Tuesday, May 29, 2007

a pequena letra

Era uma letra pequena
Entre muitas outras
Num grande livro
Sempre fui assim
Saltei para um mão
E caí junto ao aparo
Olhei uns olhos mais tristes do que eu
E quis cair no papel
Era som e palavra
E senti então
A grandeza do meu pequenino ser

Sunday, May 27, 2007

foi-se embora

I
o céu foi-se embora apenas a cor e album som, um silêncio escuro me desdobra em nadas gigantes, destino mudo abre-me os olhos, por onde nuvens sem rumo me levam e turvam para o mesmo lugar.

II
Bocados de lama continuam a crescer nos sapatos sem raiz, à chuva, secos girassóis se abrem rectangulares e vai nos pés o cheiro nocturno desse sol

III

Gostava de te poder dar a mão, nem que fosse por um segundo e sentir o que os lábios fecham e não dizem, sabes acho que viver é o mais bonito soneto, encontrar rimas apropriadas desvirtuam o instante, aquele pedaço de mundo e de vida que quis nascer e viver assim, devemos ser, sem deixar de ser, criar poesia dentro de nós, para que ela respire sempre connosco e viva connosco. Hoje, por exemplo, estou no escritório e mnem sei o que queria, talvez sair e voar e cantar e corrrer, chorar e tornar a sorrir e beber. mas o que na verdade queria, era sentir, sentir-te e sentir que não estou e que estou, não estou sozinho e que estou ao lado de muita gente

Friday, May 25, 2007

véu

Soletram os ramos e as folhas a fala do tempo
O presente esgota-se na aragem passageira
A mulher passeia sonhos, desejos e rugas
A terra cansada mas sempre jovem sente os passos
Véu é o dos olhos que separa a vida
Nas raízes do teu andar crescem renovados frutos
Também eles sentem a tua sede e fome

Wednesday, May 23, 2007

a noite

Deixa entrar a noite
Tem o sabor da chuva
E o cheiro do ar
Não tem lume apenas luz
Caminham as vozes
Despem-se as sombras
E elas nos aconchega

Deixa entrar a noite
Tem o sabor dos teus olhos
O cheiro a terra molhada
E o perfume do teu ser
E ela nos aconselha
A viver

Tuesday, May 22, 2007

Devagar
Devagarinho
Como se fossem plantas
A crescer
Desce a noite
Sobre a aldeia
Recolhida
A ouvir
As águas da rega
Longe
Lá longe vai
A cidade
Do tamanho de um suspiro
Que saudades desse filho
Que saudades dessa filha
Lá longe na cidade
Estão os frutos do nosso fruto crescido
Desce a noite devagar
Devagarinho

Friday, May 18, 2007

Por acaso

Não acredito no acaso, ou melhor
Acredito sempre no poder do amor
Feito de tranças, de bibe coberto
De unhas com terra e joelhos rasgados
Sempre desperto
Éramos nós na juventude, hoje no ocaso
Os cabelos brancos são uma nova cerejeira
A mais bonita árvore
A tua voz, uma palavra tua
Nunca serão por acaso
E as andorinhas farão os ninhos sempre da mesma maneira

Wednesday, May 16, 2007

Os mesmos tiques e toques num tic-tac igual
A mesma soturna sopa a babar rochedos à mesma velocidade quietos
Escorre o tempo entre o chão e os pés
Aonde só trevos de quatro folhas sabem erguer
Para quê e para onde meu amor?
Vão os nossos dobrados dedos agarrar as ondas que nos fogem
Despiste-me a carne e em alma viva leste os meus segredos
Estou sem mundo coberto da tua voz mas não morras sem mim
Se calhar não leste o que te mandei pelas aves entre as penas
Somos dois loucos estranhos e nenhuma pomba se compromete
Mas eu disse-te meu amor
Que amar é viver para além da vida
Nada nem ninguém nos pode separar
Tu és a voz eu sou a palavra, somos o corpo, alma, dois vulcões que por amor se abrasam em chão desconhecido e continuamos dois estranhos apenas para os outros
Mas que importa querido amor?
Se as mesmas ondas arrefecem péd de unhas miúdas e magras
Olhos mais tristes abraçam em sal o mesmo mar
De masiores silêncios são feitos os dias de almas iguais
ASntes vivermos como o azevinho

Tuesday, May 15, 2007

Estranho amor

É possível amar sem conhecer, querer sem ter, adorar uma estranha
É possível quando a ouvimos, ela não sabe, ela não pode saber, ela apenas sente
Que amor este! Tão louco como eu, como irei sem ela?
Não sei,
Sobrevivo todos os dias por ela e ela nem sabe que eu existo
Estúpida forma de inventarmos a vida
Sinto que talvez ouça o que vou dizer por isso escrevo aqui e agora amo-te
Amar-te-ei sempre e mem perguntes porquê ou como sou
Sinto-te e tudo isso me enche de uma felicidade tão estúpida como eu
Mas que me importa a estupidez se apenas o cheiro de um dedo da tua mão
o brilho de um simples cabelo teu, vale mais que todas as minhas certezas
É assim o meu amor, estranho como tu, mas não queiras saber de mim, deixa-te estar
Desse lado aonde o sol te aquece a face risonha, e o mar te acorda os sonhos
Um dia talvez navegue até à tua praia e me deixes beijar os teus pés
Até lá ouço-te como se a minha alma tivesse a tua voz

Sunday, May 06, 2007

Poesia

A melhor poesia não está escrita
Talvez se escreva nos teus olhos
Quando espreitas a beleza e sentes a vida
A que te sai pelos poros da alma
Nessas alturas em que és mais dos outros
Então sim és um poeta
A mais abençoada das malditas entrelinhas
Que te fazem correr sem descanso e cantar com a voz que tens
Sempre longe, sempre à frente
Um sol que pressentisses para além do horizonte
Todo o universo num instante preciso
A atear a chama que te conforta e consome
E que apenas sentes sempre distante
Então sim és um poeta
Se assumires que o infitamente grande pode caber no infinitamente pequeno
E que toda a beleza é perene e transitória
E que a vida
Apenas depende de ti

Thursday, May 03, 2007

era uma vez

Era uma vez a liberdade
Tantos anos presa
Nasceu doente
Mãe coragem
Três vidas criou
O corpo era uma espera
De uma alma sem horizonte
Era uma vez uma mulher
Cheia de amor