Thursday, March 29, 2007

Bocaditos

Os meus poemas são bocaditos de pão que os pássaros aproveitam
Desenhos de criança ao fim da tarde entre o sol e a lua
Quando os lábios valem o bico das aves cansadas
Os olhos nada vêem e tudo é o que se não disse
A saliva e o suor das lágrimas caladas
Aqueles pontos aonde o mais importante é sempre o teu respirar

Sunday, March 25, 2007

a esquina

Saí e abocanhei a noite com os pés dormentes
Empurravam-me como se os astros me quisessem
Ali ao virar da esquina
Entre os dentes crescia irreversível suor e os carros eram cometas
Anunciando companhia, segui e comecei a olhar para trás
Afastavam-se na sua vida apressada e era breve, muito breve
A luz dos seus faróis, segui enquanto pude
Em passeio da largura dos meus passos
Ao lado a relva mostrava-me outra sede que eu pisava indiferente
Não é fácil ser verde nos dias de hoje
Segui cortando outras passagens
E olhava sempre para trás à espera
Que alguém me levasse
À mais próxima esquina